quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Citas I

“Começei a ficar irritadiça, inquieta, era como se tivesse medo de assumir a responsabilidade de tamanho amor. Queria vê-lo mais independente, mais ambicioso. Você não tem ambição? Não usa mais artista sem ambição, que futuro você pode ter assim? Era sempre o saxofone que me respondia e a argumentação era tão definitiva que me envergonhava e me sentia miserável por estar exigindo mais. Contudo, exigia. Pensei em abandoná-lo mas não tive forças, não tive, preferi que nosso amor apodrecesse, que ficasse tão insuportável que quando ele fosse embora saísse cheio de nojo, sem olhar para tras.” Lygia Fagundes Telles, em Oito contos de amor, conto de 1986.

“Eu estava naquela avenida quando ela passou por mim em sentido oposto. Isso durou apenas alguns segundos. Ela usava um vestido preto leve, muito fluido, como se fosse de seda acetinada. O seu corpo era atlético, alto e magro. Os cabelos negros e lisos estavam cortados à la garçonne. O vestido e o corpo eram indissociáveis, um só objeto confundido, levado por um andar de elegância perturbadora. O vestido, muito decotado, não tinha mangas, e a mulher, de saltos altos, não ostentava jóia alguma. Sua beleza era inesquecível. Tive a sensação de ter me queimado com a sua passagem.” Rubem Fonseca, Bufo & Spallanzani, 1985.

“E a mulher amada, de quem eu já sorvera o leite, me deu de beber a água com que havia lavado sua blusa.” Budapeste, Chico Buarque, 2003.