domingo, 20 de setembro de 2009

Volta USP, 10 km

Winner: 33 minutes approx.

Winner among the USP professors: Murilo Tomé, 48 minutes and something.

Me: 59 minutes and a half.

sábado, 19 de setembro de 2009

A galinha da Clarice

A galinha da Clarice é burra, é quase que nem um espaço vazio, é uma simples máquina biológica com alguns reflexos vagamente humanizáveis. Foi demorada a escolha da galinha. Foi um impulso de virtuosismo. A Clarice havia sentado querendo transmitir a violência selvagem da vida misturada à arbitrariedade da ternura, e estava muito sensível ao surrealismo do cotidiano. Podia ter pegado uma ama de casa. Podia ter pegado uma mulher, uma mulher simplória, subjugada pela sociedade patriarcal, violentada, submissa (fim da violência externa), conformada, esperançada, embotada, grávida (fim da violência interna), puérpera, de olhos brilhantes e a contra luz (ternura arbitrária). Era uma escolha óbvia, era uma escolha sem poesia, carregada de mensagens feminissérrimos. E a política, como sabemos, não é que seja má, é que não é poética. A violência, a ternura, o surrealismo, mereciam um emissário melhor, um emissário verdadeiramente vazio, para que assim a imagem central não ficasse misturada com a do emissário. Sorriu. Tem bicho mais burro, mais mineral, que uma galinha? Pensou se seria um exagero. Era possível botar violência, ternura, e até surrealismo em algo tão oco quanto uma galinha? Sopesou a idéia como ridícula, procurou outro emissário. Uma mulher arborícola no Congo central também seria um exercício interessante. Mas aquele dia se sentia ousada, sentia o domínio da prosa ruborizando-a por dentro. Se sentia imortal. Então pensou na galinha. Para ser organizada, começou pela violência. A violência foi fácil. A galinha ia ser morta e comida. A galinha nunca fugiu. Foi a casualidade que a depositou no telhado. Ela não saberia fugir, nem decidir fugir de quê, nem se reconhecer fugida uma vez fugida. Foi humanizá-la que a tornou fugitiva, foi o olhar do humano, dando imaginários sentimentos a seu vazio mineral, que a culpou. E lá veio a violência desnecessária, pega da assa, jogada no chão. Quando seu corpo bateu no chão, era o sofrimento que começava, e que não acabaria até que a máquina biológica voltasse a ser mineral, sem terminações nervosas. Naquele momento de derrota, de ossos quebrados, a galinha lembra que está viva a sua maneira quase celular. Naquele momento seu esfíncter despejou um ovo. Talvez um reflexo a fez gritar có-có-có-có. E até erguer a cabeça de maneira que um humano sentimental a achasse inchada de orgulho. O ovo que sai rolando, a galinha com sua asa quebrada, completamente desorientada, indo atrás de seu ovo sem compreender o que era aquele vulto branco. E aquele momento surrealista, o segundo do conto na verdade, serve de nexo para a ternura arbitrária que ainda estava faltando. A família vê o que não existe, vê amor onde só tem burrice, vê coragem onde só houve confusão. E ama aquela galinha. Se apropria dela, faz dela um bichinho de estimação mais morto que os de pelúcia. O menino da casa bem queria o amor que o pai está dando à galinha, porém o menino acha justo. E a galinha nem aproveita aquela ternura injusta, não tem como aproveitar. Não existe amor mineral. A história da galinha lhe pareceu boa, defendível, tampouco inspirada, apenas um trance de virtuosismo. Era bom saber que a prosa fluía na sua cabeça, como sempre. Mas também não era uma estrela, uma explosão, uma chama. Voltou ao papel porque agora que o êxtase havia cessado, queria deixar aquela desilusão inventariada no conto. E foi assim como a galinha não teve funeral.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sem Açúcar (Chico Buarque)

Todo dia ele faz diferente, não sei se ele volta da rua
Não sei se me traz um presente, não sei se ele fica na sua
Talvez ele chegue sentido, quem sabe me cobre de beijos
Ou nem me desmancha o vestido, ou nem me adivinha os desejos

Dia ímpar tem chocolate, dia par eu vivo de brisa
Dia útil ele me bate, dia santo ele me alisa
Longe dele eu tremo de amor, na presença dele me calo
Eu de dia sou sua flor, eu de noite sou seu cavalo

A cerveja dele é sagrada, a vontade dele é a mais justa
A minha paixão é piada, sua risada me assusta
Sua boca é um cadeado e meu corpo é uma fogueira

Enquanto ele dorme pesado eu rolo sozinha na esteira
E nem me adivinha os desejos
Eu de noite sou seu cavalo

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Lorenzo: Ocurrió en las Galápagos

Valentina come su lechuga durante la clase de lengua en el aula de 1ro B. Le gustaria poder hablar y corregir los errores, no sólo de los chicos, sino también de la profesora nueva, que le parece un poco ignorante y demasiado permisiva. Ella era más exigente, no faltaba nunca y nunca llegaba tarde. Costara lo que costara. No aceptó quedarse en cama, ni por la gripe porcina. Cuando la fiebre empezó aquel martes, la desesperó pensar que al día siguiente no podría ir al colegio a exigir la tarea pedida hace unas horas. Y la desesperación le dio una idea.

Fue con su hermano biólogo a pedirle aquella droga experimental en que estaba trabajando. Tamiflu Ultra. La única que podría curarla en el lapso de unas horas. La tomó y, efectivamente, al despertarse el miércoles la fiebre había desaparecido. En el camino al colegio empezó la picazón en la piel, sobre todo en la espalda, y la pérdida del equilibrio. Llegó al colegio arrastrandose en cuatro patas y sintiendo un peso absurdo en la espalda. Tardo mucho llegar al aula y al intentar hablar, descubrió que no podía.

Ya esta por tocar el timbre, Catalina se relame pensando la lechuguita fresca que los chicos le van a poner en el plato antes de irse a jugar al patio.